quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Copiador

É dito que nessa vida nada se cria,
 tudo se transforma 
ou copia...


Havia um jovem, de aproximadamente 14 anos, que dizia não possuir uma identidade. Não era o documento, era sua personalidade. Seu nome. As pessoas acostumam atribuir suas características positivas e negativas ao seu nome. Quantas vezes ele já não havia ouvido...

"Se eu não fosse assim não seria eu"
"Eu sou assim e pronto!"
"Se eu mudar, não serei mais [nome]"

Ele ria dessas pessoas. Ria porque isso as limitava. Ria porque se ele pensasse da mesma forma, seria como eles. E a ideia de ser igual aos outros o fazia ter arrepios. Talvez por isso ele ficava quieto no canto. Observando. Quase sempre rindo internamente.

Como uma câmera de segurança ele registrava tudo que acontecia ao seu redor. Todavia, as câmeras de segurança não servem apenas para observar. Há pessoas assistindo por trás delas. Essas pessoas atentam nos detalhes, no que é mais importante, no que desperta curiosidade momentânea. E este jovem também era assim.

Quando ele gostava de uma característica, fosse: um movimento, uma fala ou frase, a forma de falar ou de se expressar; e analisava a aceitação dos outros sobre tal feito - e vendo que a maioria gostava -, copiava. Ele adicionava a sua personalidade. Ele copiava até si mesmo, pois todo termino de frase que dizia era dito novamente na cabeça. As vezes, algumas pessoas até percebiam essa mania que ele tinha de repetir(para ele, copiar), pois viam os lábios dele se movendo e a sua voz bem baixa sussurrando o que acabara de dizer.

Mas não era somente de pessoas da vida real que ele copiava. Havia os filmes, novelas, as séries e os desenhos. Os personagens. Os de vídeo-games também. Principalmente as falas e a voz. Isso o deixava com orgulho, pois considerava-se melhor que os outros que não faziam isso. Vejamos o "por quê"...

Imagina que para alguém ser comediante, ele precisa ser criativo. Esperto. Mas como alguém pode saber ou adivinhar que o outro vai rir da sua piada? Ele precisaria conhecer os outros, mas isso seria impossível para produzir um espetáculo, caso precisasse conhecer todo mundo... Então ele precisa conhecer o básico dos seres humanos, o senso humorístico que a maioria tem em comum e atingir nesse ponto. Logo, quando um comediante solta uma piada nova, provavelmente, essa "piada" terá passado pelo filtro de aceitação baseado no que ele conhece sobre as pessoas e pelo seu discernimento do que considera engraçado.

Contudo, sabe-se que não são só os comediantes profissionais que fazem o povo rir. Existem várias pessoas que diverte os outros. Essas pessoas costumam usar somente o "discernimento do que considera engraçado"". Ela pensa numa piada, acha graça e manda. Ela não pensa na crítica. Isso reduz as chances dos outros acharem engraçado caso o senso de humor dessa pessoa não seja tão bom. Porém, esse é melhor meio de fazer os outros rirem, utilizando somente o seu senso de humor. Pois a velocidade e a criatividade trabalham livres. Para esse senso de humor ser bom, ele precisa ter uma gama de senso do que é engraçado enorme. E para ele ter esse senso do engraçado ele precisa possuir várias características ocultas, que não são dele, mas que fazem ele considerar várias coisas engraçadas. Ele precisa absorver das pessoas tudo que as fazem sorrir e equivaler a tudo que o faz sorrir. Para conseguir fazer mais pessoas rirem sem precisar pensar no que elas irão achar. Claro que isso tudo ocorre em questão de segundos ou menos. E não é só nessa área que isso acontece. Mas isso explica o porque do jovem Copiador se achar melhor que os outros. Afinal, copiar características dos outros requer que você pense ou sinta igual a pessoa, fazendo sua mente ficar mais aberta perante milhares de coisas.

Além disso, havia as histórias, os livros. Ele copiava a forma de escrever que cada livro possuía. As vezes, a forma de escrever de uma sobrepunha o do outro, as vezes escrevia da sua forma. As vezes, todas combinavam-se e o resultado... nem ele considerava que poderia escrever assim.

Ele queria saber o que se passava em cada mente. No conhecimento que cada um tinha. Principalmente os dos professores. Queria saber quanta informação havia ali, como pensavam. Como resolveriam a prova que estão aplicando. Adquirir seus conhecimentos por osmose. Se interessava mais pelos professores, porque as pessoas da sua idade, do meio que convivia, já não eram o suficientes. Não. Ele precisava de mais. Mais que adolescentes e adultos que só pensavam em tirar notas suficientemente boas, ter relacionamentos afetuosos e ir para as festas todo final de semana sabiam. Ele era capaz de deduzir as reações das pessoas, o que diriam, ou, o que pensariam e diriam em seguida. Isso tudo porque ele havia adicionado tantas características, personalidades em si, que o ser humano ao qual ele estava exposto nos ambientes não era mais um mistério. Agora, estava interessado em saber como outros tipos de humanos eram. E o que mais o intrigava. Como seria outra pessoa parecida com ele, principalmente, do sexo oposto.

Quando conheceu pessoas um pouco mais semelhante com ele que os outros, copiou as piores coisas. O conhecimento que eles possuíam não iam muito além do que ele já sabia, só não reparava. Entretanto, a raiva, o ressentimento, a fúria, a indiferença, a dor, o ódio. Não era algo que ele estava acostumado, e quando os absorveu, foi quase fatal. Depois de tanto copiar, talvez esse fosse o fim. Muitas pessoas param nesse estágio, ou permanecem o resto da vida assim ou a terminam.

Mas ele era "O Copiador"... não podia ficar assim. Tantas características e personalidades adquiridas, e é aqui que pretendia parar? Haveria algo a mais de tudo que ele já havia visto através das pessoas e dos personagens? 

Haveria.

Nunca se soube o que foi, apenas que "O Copiador" mudou completamente. E tudo que havia copiado e ainda copia, foi para o seu bem e o bem dos outros simultaneamente.

Houve um tempo em que ele tentou ensinar tudo que havia aprendido para algumas pessoas, mas poucas deram ouvidos. E as poucas, depois de um tempo, esqueceram. Então ele também esqueceu. E decidiu guardar para aqueles que são como ele. Porém, nunca contou a mais ninguém. Talvez porque ninguém quer copiar ninguém, quer ser apenas você, mesmo que o você esteja sempre sofrendo e cheio de defeitos.

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