terça-feira, 15 de novembro de 2011

Outra dimensão(Reescrito)


Caminhávamos lentamente sobre a calçada inclinada, rumo ao topo. Era tarde, o sol aos poucos estava despedindo-se da paisagem, enquanto as árvores retribuíam o gesto balançando de um lado para o outro. Sua respiração tornou-se ofegante há poucos instantes, e eu havia percebido -- logo começou a resmungar de cansaço.
         Ofereci levá-la no colo até lá em cima, mas ela hesitou; de primeiro momento. E, justo quando estava distraído, pulou em minhas costas entrelaçando seus braços em volta do meu pescoço. Cambaleei para trás e recuperei o equilíbrio, segurei as suas pernas atrás dos joelhos e ela repousou o queixo em meu ombro. Continuei a subir.

- Ah! Como é bom não precisar subir esse morro a pé. – Olhei-a de relance e sorri.


- Está confortavel ai? -- Ela retribuiu o sorriso como se já esperasse essa reação. Ambos conseguiam entender a intenção um do outro.

- Não, mas não tenho outra escolha de meio de transporte – Brincou, e eu entrei no jogo.

- Tem sim, se eu me cansasse te deixaria aqui mesmo e você teria que usar suas pernas.

- Mas você não vai se cansar, eu confio em você.

- Quem garante?

- Você é forte.

- Prefiro dizer que você é que é magra.

- Fico lisongeada em saber disso.

- Segure firme!

- Por qu... – Saí correndo em um impulso e ela soltou um gritinho. A subida estava quase terminando. Chegando ao destino, parei.

- Que foi? Acabou o gás?

- Não. Já chegamos, é hora de você descer senhorita. – Estava exausto.

- Está bem. Não é muito confortável aí sabia? Só vou descer porque não quero machucar minhas costas, se não você me levaria até em casa. – disse, ainda brincando. Ambos compartilhavam um senso de humor grande e muito semelhante.

- São só as suas costas, né? Eu é que deveria estar reclamando! - Caímos em gargalhadas. Nos acalmamos, em seguida, olhamos um para outro fixamente, descontraídos. Apenas o som do vento movendo as árvores é o que nos acompanhava.

Voltamos a caminhar.

- Mas você disse que eu era leve... estava mentindo?

- Não... - abaixei a cabeça, meu humor havia mudado instantaneamente. - só me expressei mau.

- Estou brincando seu bobo! – ela tentou me animar, mas era tarde demais.

- Você não existe.

- Isso é o que você pensa.

- Você é o que estou pensando. – paramos, e sentei no banco de uma praça que havia ali. Estranhamente, não tinha ninguém.

- Sou uma obra sua e possuo pensamentos, e como diz nossa filosofia: penso logo existo.

- E por ser uma criação minha, você pensa do mesmo jeito que eu.

- Então você está dizendo que possui um lado feminino? – esboçou um sorriso malicioso.

- Não existe essa de pensamento feminista... a única distinção para mim de homem e mulher era o corpo, mas até isso, se fomos olhar por outro lado, já não distingue.

- Que grande besteira!

- Também acho isso... já nem sei o que estou dizendo. Estou perdido em meu mundo, sendo você  uma parte dele.

- O que quer dizer com isso?

- Que mereço levar um ponta-pé para ver se acordo.

- Se quiser eu posso fazer isso. – ameaçou, novamente brincando.

- De você não irá fazer efeito, mas se isso te fizer feliz, pode chutar a vontade.

Ela sentou ao meu lado e me abraçou.

- O que vamos fazer agora?

- Essa é uma resposta que tento encontrar faz tempo.

- Não quero perdê-lo.

- Logo vai acabar, não se preoculpe.

- Acabar o que?

- Tudo.

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