quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O preço de ser diferente...

 Passeando pela net, encontrei este trecho de algum forúm, e que vale a pena refletir sobre.


"Quanto mais estudo, mais leio, mais tento entender a existência, mais me complico, mais me frustro e mais me entristeço. Pq pessoas que partilham do senso comum são mais felizes? by RAC

Eu não diria com tanta segurança que as pessoas, de uma maneira geral, andam felizes. Vejo por aí muito mais um "desejo de felicidade" do que propriamente felicidade. Penso, como diz Lipovestsky, que estamos na "era do vazio" e que as pessoas procuram inconscientemente se auto-afirmar, isto é, aparentar um estado de felicidade que me parece muito suspeito. E os livros de auto-ajuda estão aí, vendendo mais do que nunca. Nem sempre estar no senso comum é um mar de rosas. Conheço algumas pessoas insatisfeitas e infelizes que, na minha opinião, ficariam muito melhores se saíssem do senso comum. Por que digo isso? Porque a causa do sofrimento dessas pessoas - ainda que elas não o saibam - se deve justamente ao fato delas tentarem desesperadamente se enquadrar em normas do senso comum, o que gera uma grande ansiedade. Por exemplo: imagine um rapaz pobre que, seguindo o senso comum, e tal como Ménon (protagonista do diálogo "Ménon", de Platão), acreditasse que virtuoso é o homem que possui riquezas (isso parece ter algo de comum com a nossa contemporaneidade, não?). Certamente que esse rapaz, aceitando este princípio social mas sendo desprovido de riquezas, sentiria-se extremamente diminuído, desconfortável. Não seria, então, muito melhor para ele transcender o senso comum e descobrir que, na verdade, o valor de um homem não pode ser medido por suas riquezas?
    É evidente que quem supera o senso comum enfrenta inúmeras adversidades - preconceito social, a falta de compreensão das pessoas, impopularidade etc. E a força social do senso comum é tão forte, que "ele" acaba incutindo culpas, dúvidas, crises, neuras, temores naqueles que estão "do outro lado". Certamente você já deve ter passado pela situação de pensar "será que estou realmente certa de ser assim? Será que não seria melhor ser como todo mundo?". A autoconfiança inabalável de Sócrates, impopular em Atenas justamente por questionar as idéias preconcebidas, nos serve mais uma vez de exemplo. Sócrates foi literalmente colocado num tribunal, acusado e condenado, e mesmo assim manteve-se tranquilo de que tinha razão. Nós não temos toda essa serenidade, e nos deixamos abater. Talvez porque abandonemos o senso comum mantendo um pezinho nele. Talvez porque tenhamos abandonado aquela caverna platônica na qual estivemos durante toda a vida, mas nossos olhos ainda não estejam adaptados à luz do sol. Acredito que sua frustração está muito mais relacionada ao fato de que você ainda se deixa abater pelos preceitos e cobranças do senso comum (mesmo que um lado seu já tenha descoberto que esses preceitos são ilógicos), do que ao fato de você estar cada vez mais se afastando deste senso comum. Veja, Sócrates se dizia um maiêutico, um parteiro da verdade, e partos são doloridos, não? O processo de saída do senso comum não é fácil, e ele pode durar anos até se realizar por inteiro. E aí o que eu te recomendo é não apenas ler mais e procurar entender mais - o que você visivelmente já faz -, mas sim adquirir convicção do seu valor como ser humano, do valor das suas idéias e dos caminhos que você escolheu na vida. Vou dar um exemplo extraído da minha própria experiência: de nada adianta eu saber que "estudar filosofia não é coisa de louco", mas sentir-me abatido quando alguém - ligado ao senso comum - afirmar que "filosofia é coisa de louco". Fica parecendo aquela coisa do duplipensar orwelliano: liberdade é escravidão, guerra é paz, ignorância é força. Tenho de ver a opinião "filosofia é coisa de louco" como ela realmente é: uma tolice que, como tal, não deve me trazer grandes incômodos. Sair do senso comum tem de ser também um exercício de construção da sua estima.

by rafaissa"

Sair do senso comum, do padrão estabelicido pela sociedade sem preoculpar-se com que os outros pensam, é um exercício e tanto, e aqueles que possuíem esta virtude certamente são mais felizes, pois o que nos faz triste, é a capacidade limitada de respeito - seja lá o que for -, dos outros.

"Felizes são os loucos...que vivem pouco...mas vivem como querem" Rei bob

"Mas eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo." Luis Fernando Veríssimo

"Só os peixes mortos nadam a favor da correnteza"

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