domingo, 24 de outubro de 2010

Outra dimensão


 Estavamos subindo o morro e ela resmungava de cansaço. Ofereci levá-la no cólo até lá em cima, mas ela hesitou, de primeiro momento. E justo quando estava distraído pulou em minhas costas agarrando-me pelo pescoço. Cambaleei para trás, e reculperei o equilíbrio; segurei as suas pernas pelas coxas e ela encosto o queixo em meu ombro.

- Ah! Como é bom não precisar subir esse morro a pé. – sorri.

- Está confortavel ai?

- Não, mas não tenho outra escolha de meio de transporte – ela brincou e eu entrei no jogo.

- Tem sim, se eu me cansasse te deixaria aqui mesmo.

- Mas você não vai se cansar, eu confio em você.

- Quem garante?

- Você é forte.

- Prefiro dizer que você é que é magra.

- Fico lisongeada em saber disso.

- Segure firme...

- Por quê? – Saí correndo em um impulso e ela soltou um gritinho. A subida estava quase terminando. Chegando lá em cima, parei.

- Que foi? Acabou o gás?

- Não. Já chegamos, é hora de você descer senhorita. – Estava exausto. Ela começou a descer.

- Está bem, não é muito confortável aí sabia? Só vou descer porque não quero machucar minhas costas, se não você me levaria até em casa. – disse, em um tom de sarcasmo.

- São só as suas costas, né? Eu é que deveria estar reclamando. – ri.

Começamos a caminhar.

- Mas você disse que eu era leve, estava mentindo?

- Não, só me expressei mau. – baixei a cabeça.

- Estou brincando seu bobo! – ela tentou me animar, mas era tarde demais.

- Você não existe.

- Isso é o que você pensa.

- Você é o que estou pensando. – paramos, e sentei no banco de uma praça que havia ali. Estranhamente, não tinha ninguém.

- Sou uma obra sua e possuo pensamentos, e como diz nossa filosofia, penso logo existo.

- E por ser uma criação minha, você pensa do mesmo jeito que eu.

- Então você está dizendo que possui um lado feminino? – ela deu um sorriso malicioso.

- Não existe essa de pensamento feminista, a única distinção para mim de homem e mulher era o corpo, mas até isso, se fomos olhar por outro lado, já não distingue.

- Que grande besteira!

- Também acho isso, já nem sei o que estou dizendo, estou perdido em meu mundo, sendo você  uma parte dele.

- O que quer dizer com isso?

- Que mereço levar um ponta-pé para ver se acordo.

- Se quiser eu posso fazer isso. – ameaçou, novamente brincando.

- De você não irá fazer efeito, mas se isso te fizer feliz, pode dar a vontade.

Ela sentou ao meu lado e me abraçou.

- O que vamos fazer agora?

- Essa é uma resposta que tento encontrar faz tempo.

- Não quero perdê-lo.

- Logo vai acabar, não se preoculpe.

- Acabar o que?

- Tudo.

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