quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Conjure!–Parte 3



Conjure_by_Seany_Mac
Sempre no ano novo o mesmo ritual se repetia. Viajavam pelas quatro direções do reino de Caim selando o “Escudo Branco”. Apesar de denominaram como um reino, há muito não havia um monarca ali. A democracia estabelecera assim que a cidade fora invadida pelos ancestrais dos “Oradores”, os primogênitos da arte de conjurar. Guerreiros que haviam aprendido o poder das palavras.

Diferente dos livros  de história da escola, não foi á força que tal ideologia se instalara. Fora através de seus conhecimentos sobre essa arte desconhecida que os habitantes de Caim passaram a mudar, e com isso afetar o rei. A invasão, supostamente dita, era porque ninguém deveria entrar ou sair dali sem a devida permissão. Assim que os guerreiros mostraram do que o “Dom da Palavra” era capaz, muitos o acolheram. Houve um ou outro que não se absteve com o primeiro ato, mas antes que chegassem ao segundo,  já haviam conquistado a todos com os serviços prestados. Quando revelaram aos cidadãos que todos poderiam aprender os milagres que faziam, a maioria ficou excitada e agitada.
Aos trancos e solavancos, ensinavam tudo que sabiam aos curiosos. Dentro de poucos dias, a cidade toda havia mudado. Aquele cotidiano habitual, de trabalhadores exaustos de tanto trabalhar e desiludidos com a vida, transformara-se  num cenário mágico. Qualquer problema com comida, agua e saúde, eram resolvidos facilmente. A paz e harmonia tomava conta daquela gente que vivia desanimada. E claro, por mais que os soberanos não se importassem com a plebe, uma transformação drásticas daquela era evidentemente notável.

Foi quando o Rei tomou conhecimento do motim.

Não que eles fossem contra aos superiores, nem mesmo o atacavam. Forças para fazê-lo até que possuíam, mas meios, eram violentos demais. Preferiam manter-se no anonimato e cuidar da raiz. Muitos falam em plantar sementes, se esquecendo de tratar o solo. Fácil é cavar a terra, sepultar o grão e aguardar que a natureza faça o resto por aquele resquício de árvore. Isto, se ocorrer a germinação. Estudar o processo envolvido nos minerais e descobrir uma terra frutífera é outra história. Considerações que passam despercebidas, embora os guerreiros conhecessem tal regra, não tendo invadido aquele reino em vão.
Pressentiam os maravilhosos frutos que aquela cidade, um dia, daria.

Seus planos, contudo, estavam ameaçados agora pela descoberta que o Rei fizera. Haviam se esquecido desta parte de tão felizes e entusiasmados com o que estava acontecendo. Observavam as pessoas aproveitando os benefícios de conjurar, ainda que fossem apenas brincadeiras de criança, comparado ao que eles, guerreiros, manifestavam. Desconheciam a origem, os pormenores, daquela arte. Pouca teoria e muita prática, era como lidavam com sua obra.

O Rei fora informado pelos seus súditos. Recebera a notícia, quando repousava solenemente sobre seu trono estofado:

- Majestade! – um soldado parara em sua frente, reverenciando-o.

- Diga. – a voz calma, sonolenta.

- Majestade! Fomos informados de que há estrangeiros em nossas terras.

- Todos o somos. Não há novidade nisso.

- Vossa majestade não me compreendeu…

- Como assim?!  - o rei se levantou, acordando vividamente daquele estado moribundo, enfurecido: – Estais me insultando?!

- Não, perdoe-me. Vossa alteza. Eu que me expressei mau.

- Eu o perdoo. Mas trate de não repetir, ou o condenarei a guilhotina!

- Isto jamais se repetira. – nervoso, resolveu contar logo o que acontecera antes que perdesse a cabeça, literalmente: – Como dizia, vossa alteza. Há estrangeiros, divagando por essas bandas. – Dessa vez, aumentou o tom dissimulado, denotando a palavra outro sentido.

- Estrangeiros! A quanto tempo estão aqui?! De quem se trata?! O que estão fazendo ou planejando?! Que espécime de  sujeitos são?! Ande! Diga-me!

- Se… Senhor… – a voz já quase não saia, engoliu a saliva, e praticamente cuspiu o resto: – Tudo que sabemos, é que são guerreiros. Estão aqui por volta de duas ou três semanas. Pelo que fui informado, eles… eles… – o suor escorria por sua face. O monarca se sentou, acalmando-se: – Eles melhoraram a vida de Caim. Os habitantes estão cada dia mais sorridentes e contentes.

- Maravilha. –  com as mãos apoiadas nos braços da cadeira, mexia com sincronia os dedos pra cima e pra baixo: – Não há com o que se preocupar, afinal, melhoraram a cidade. Devíamos fazer um banquete em sua homenagem.

- É.. Senhor..?

- O que foi?! Para de fazer suspense e mande logo a bomba.

- Os cidadãos da cidade… estão… como posso dizer?… Estão… – o rei deferiu um murro na madeira da poltrona, fazendo o estremecer: – Milagres! Soltou o soldado, assustado.

- O quê?!  - ele se ergueu com seu manto vermelho com bordas felpudas, parecia um armário coberto. A gargalhada veio em seguida: – Esta caçoando de mim de novo, não é? Irei promove-lo a bobo-da-corte.

- É verdade, majestade.

Seu semblante tornara-se sério em um instante.

- Quero ver com meus próprios olhos.

Chegando na praça, onde havia uma fonte de mármore, passou os olhos ao redor das multidões.  E viu a mesma cena anteriormente dita: comidas se multiplicando, rios, antes poluídos, brilhavam feito diamante. Pessoas nadavam e bebiam agua dali. Crianças e idosos que estavam convalescentes e gravemente doentes, pularem de alegria, abençoando os deuses pela vitalidade que ganharam. Voltou-se para o soldado que o acompanhara.

- Quero ver estes guerreiros, imediatamente!

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