sábado, 20 de outubro de 2012

Desenterrando Traumas

Diário Ex-tímido: Série de artigos relacionados ao tema timidez.

Fóssil

O Fóssil

Um segundo, uma imagem, um momento, um susto extremo, é suficiente para criar uma marca que pode durar a vida inteira. Um sofrimento constante, a dor dilacerante, uma experiência negativa vivida dezenas de vezes, alimenta o medo, antes pequeno, transformando-o em um problema imenso. Um passado guardado, misterioso, horroroso, que mau compreendido, aceito, contamina a vida do seu portador. Deixando a pessoa nervosa, assustada e medrosa quando se encontra, novamente, com suas lembranças.
Trauma.

Existem medos sem uma razão aparente, que não possuem motivos para existir. Entretanto, na maior parte, o medo é lógico. Trata-se de uma série de argumentos momentâneos e/ou consistentes. O que isso quer dizer? Significa que as pessoas sentem medo devido a um pensamento, a uma ideia. Por exemplo, o medo de altura.

Medo de cair daquela altura. Ora, se você está em um lugar alto, é óbvio que existe a possibilidade de você despencar daquela altura. A razão do medo esta em “cair” e, se formos mais fundo, baseia-se em “sobrevivência”. Pois a tendência é que quando alguém cai de uma altura elevada, ela morre ou sofre uma enorme contusão (já que não somos desenhos animados, pena.). Ou seja, o medo está fundado em uma lógica “cair>sobrevivência” e isto é normal até certo ponto(se não veríamos lemmings perambulando por aí). Porém, as pessoas que dizem ter medo de altura, possuem um medo maior ao comum. Não importa o quão seguro o local pareça, só a sensação de altura já lhe causa aflição. Cria-se então diversas teorias de conspiração contra o lugar “totalmente seguro”. Teorias, estas ,que não fazem sentido algum para quem não tem aquele medo amplificado.

Alguma semelhança com a timidez? Muita. Boa parte dos pensamentos e ideias que temos com relação aos que outros iram pensar de nós ou já pensam, são errôneos. Somos um professor Xavier com poderes de vidência. Como se agente lesse os pensamentos e previsse alguma coisa. É um pré-conceito. Baseamos e calculamos em experiências passadas ou lidas, supondo que a mesma coisa esta acontecendo diante de nós. Características causadas por traumas.

O que é, exatamente, um trauma? Uma experiência, algum momento na sua vida, desagradável que deixa uma marca duradoura na mente. Esta marca se instala no seu cérebro como um cálculo de matemática simples “1+1=2”, você não precisa pensar nela para ela estar lá, ela permanece mesmo sem você querer. Por mais que tentemos apagar o ocorrido, esquecer, ela ficará ali. Trazendo outras consequências.

Você toma coragem para perguntar algo para alguém, e essa pessoa te responde com arrogância ou te ignora. Seu medo aumenta, sua concepção sobre fazer perguntas a estranhos fica mais negativa, na próxima, você pensa, não pergunto. Esta aí um trauma leve, pois a pessoa ainda tem coragem suficiente para enfrentar seu problema mas não vai querer. Quanto mais tempo passa e mais a pessoa evita, mais o medo eleva, até chegar a um ponto que, mesmo ela querendo perguntar a alguém, não consegue. Evitar, neste caso, foi prejudicial.

“Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.” – Ney Mato grosso

Devido ao tempo que se passa e  o não entendimento da situação, o fóssil se transforma em petróleo. Uma mancha negra no passado.


petroleo


Explorando A Reserva De Petróleo


O que sobra é enfrentar o “bicho”. Entretanto, estamos falando de traumas e medos. O que significa, que precisamos “cutucar a ferida”, revirar o passado. Apertar, fuçar, e controla-lo. É semelhante ao processo de extração do petróleo: perfura-se o solo(passado) até encontrar a reserva. A fonte de petróleo(a origem do trauma).

Em seguida, há a extração, trazendo o liquido(memórias) até a superfície(o momento presente) onde passará por uma série de processos químicos(análises). Deste processos, surgirá material(prós e contras) para uma infinidade de coisas(inspiração, reflexão…) sendo a principal e mais lucrativa, o combustível.(força de vontade)

Aceitar o que aconteceu e analisar o que você ganhou com isso. Mesmo que você considere que não aprendeu nada, há algum valor naquilo. Um valor positivo, não somente negativo, pessimista. A experiência te condiciona, te faz enxergar uma nova forma de ver a vida ou tal situação. É necessário ver o lado otimista. Só assim conseguirá aceitar o fato. Quando conseguir fazer isto, quando suas recordações não forem mais sofríveis. Quando o seu passado for aproveitado, terá dado um enorme passo.

Não se culpe pelo que não fez e deixou de fazer, tente tirar algo de bom. Se você ficou assistindo filme, desenho ou programas de televisão, alguma coisa aprendeu, e também trabalhou a imaginação. Se ficou jogando vídeo-game, também, sua imaginação se expande, sua concentração aumenta, além de evitar você fazer alguma besteira. Pesquisou e estudou algo, qualquer coisa que seja, poderá ser útil mais pra frente. Conhecimento nunca é demais. Perdoe as pessoas envolvidas nos traumas, inclusive você, encontrando o pró. Aceite.

É improvável que você se liberte culpando os outros e a si mesmo. Solte os outros e você dessa prisão mental. Adube suas faltas, converta fósseis em petróleo. Quem lucrará mais com tudo isso é você.

Alternativas

Constantemente, traumas, medos e sofrimento, são transformados em arte. Escrever, desenhar, pintar, esculpir, cantar, tocar algum instrumento, enfim. A uma série de meios de você conduzir sua angustia, sua tristeza, em uma produção artística. Ainda que faça para ninguém ver, faça. Pois assim, consegue conforto e aceita melhor. Se não tiver nenhuma experiência, tente algo. Afinal, ninguém irá ver mesmo, o que custa tentar?

Neste caso, eu resolvi criar um diário. Porém, não me sentia bem escrevendo apenas sobre mim. Acabei escrevendo uma estória-diário, que é a minha história acrescentando outras coisas, outras situações. Atualmente, estou transformando-a em um livro, que algum dia, talvez, publique. Após três anos escrevendo, li uma matéria que dizia que um dos recursos para as pessoas tímidas se expressarem e melhorarem era escrevendo sua própria história em terceira pessoa(o que eu já fazia). Ao invés de escrever “Eu isto, eu aquilo, eu senti, eu fiz” fala-se “Ele fez isto, ele fez aquilo, ele sentiu”, contando a própria história como se fosse outra pessoa. É outra, excelente, alternativa.

Diário Ex-tímido:
3. Desenterrando traumas

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