sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Marcas

Corre, corre. Amarelinha. Café-com-leite.
Não sabe brincar, não brinca. E, assim, me excluía.
Sempre que perdia, ouvia-se risadas.
Triunfante, insolentes, com aqueles vários dentes.
Dentes da tormenta, ferozes, temidos.
Provocando a ira das lágrimas no intimo.
Corria, chorava, resmungava; nada feito.
Era como mamãe sempre dizia:
"- Se chorar é pior. Engole o choro."
Contra isso, ninguém podia discutir.
Logo se ouvia os berros: -Vem pra casa fulana!
- Ta tarde!, é melhor correr! Ou vai levar cinta!
Correr ou não, não fazia diferença.
O castigo era certo, sem reclamação.
A surpresa, a lamúria - choro da desgraça.
Enganada, traída, a arma diferente.
- Toma! Que é pra você aprender!
E o chinelo estralava - mas não era cinta?
A borracha amortecia a pele, melhor do que o couro,
que deixava marcas vermelhas de desgosto.
- E ai de você se chorar! pare de chorar!
"- Segura, segura, segura. Não!" 
E as prisioneiras pulavam o muro de pele, fugiam.
- Tá chorando?! Toma! Que é pra você aprende!
- Engole o choro! Engole o choro!
"- Engole a dor, engole a dor."
Que gosto salgado! A dor tem gosto de sal, sabia?
Semelhante ao mar, só que mais leve.
Dele colocamos no saleiro pra temperar,
tempero a gosto, temperamento azedo.
Mas porque mereço essa desonra?
Alguns minutos de atraso, uma brincadeira, divertimento.
Pago, agora, com este sofrimento. - lá se foi o belo dia.
Lá se foi a doçura, lá se foi a honra,
Lá se foi a coragem, e veio o medo.
Convidado de sempre, de sempre
Da infância, da criança, do adolescente,
Do adulto que virou intolerante, exigente.


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