sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Banho e a Lama


Um animal dentro da lama dificilmente conseguirá se limpar. Ainda que consiga limpar determinadas partes, assim que se mover, se sujará novamente. Não se limpa lama com lama. É preciso, a ele, sair daquele lugar e banhar-se em um rio límpido e cintilante. Devido ao tempo em que se permaneceu dentro da lama, sobre o efeito do sol, ela seca e forma crostas por todo o animal. Mas nada resistirá a um bom banho.

É sujando-se que se nota a importância de manter-se limpo. É saindo do lugar, limpando-se por completo, que percebemos o quão sujo estávamos, e o quão acostumados estávamos com aquela condição. É permitindo-se encontrar a calmaria, a suavidade do rio, a sua pureza, que enxergamos o quão ruim era onde estávamos, como era restringido os movimentos, quanto era difícil para se locomover de um ponto a outro.

A humanidade é assim, como um animal ou uma criança na lama: adora se sujar. Brincar dentro da poça. Se divertir. Gastar todas as suas energias ali. Quando chega a noite, quando a energia acaba, a emoção vai embora. Tudo que querem é sair dali e se limparem, mas não possuem mais energia. Não tem mais ânimo. Consumiram tudo. O barro agora é um fardo. Uma camada de pele extra que incomoda, irrita. E mesmo com tudo isso, adormecem ali. Exaustos. Cansados por tudo que sentiram e sentem. Até que o amanhã reapareça, a energia lhe volte, o sol lhe aqueça, prontos para mais um dia de brincadeiras. Com uma exceção: a camada de barro do dia anterior está ali, e com mais um dia, mais crostas se formam. E mais dura ficam sua pele. Mais enrijecido são seus movimentos. Até não possuírem mais força para sair dali. Necessitando da ajuda de outros.

De que adianta tomar um banho e voltar para ali? A menos que seja para ajudar os outros e depois sair, de nada lhe servem. Ficam no eterno vai e vem. E por não irem afundo na lama, não sentem o prazer completo do banho. Não apreciam sua beleza. Querem os dois. Querem tudo. Menos permanecer em um; ficam em cima do muro. Decidam-se! Ou lá, ou cá. O barro ou o banho.

A lama ou o mar."

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